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O Mundo Sombrio no Jardim das Delícias Terrenas

Atualizado: 21 de nov. de 2021

Nome Original - The Garden of Bosch Delights

Artista: HIERONYMUS BOSCH

Data: 1510 – 1515

Material: Óleo sobre madeira

Dimensões: 220 x 389 cm

Estilo: Renascimento Nórdico

Museu do Prado: Madri, Espanha: https://www.museodelprado.es


(Foto site oficial Museu do Prado)

 

Sobre o Artista:


HIERONYMUS BOSCH


Nasceu no ano de 1450 em Bolduque, Flandres (atual Bélgica). De família composta por várias gerações de pintores, Bosch recebeu suas primeiras instruções artísticas na oficina familiar. Pouco se sabe sobre sua vida, apenas alguns fatos entre eles, está o ano de 1841 quando Bosch casa com uma rica herdeira de uma das mais influentes famílias da cidade. Isso permitiu-lhe ascender socialmente e, assim, converter-se em um burguês.


Existem alguns artigos que afirmam que Bosch esteve ligado a leituras esotéricas, pertencendo algumas sociedades religiosas.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Segundo alguns de seus biógrafos, Bosch viajou para a Itália entre os anos de 1500 e 1504, onde pôde presenciar o apogeu da pintura renascentista, onde aprendeu o método de perspectiva. Bosch foi o último e talvez o maior dos pintores medievais e um dos raros artista que utilizou a fantasia, mesclando a realidade, as visões, os sentimentos em suas obras.


Dentre suas obras, esse posts mergulha entre cores e sombras no Jardim das Delícias Terrenas, um Tríptico apresentado fechado e aberto que conta a história do mundo, mesclando sombras e luzes em um caminho do paraíso ao Inferno.

 

Um mergulho entre cores e sombras.

O Mundo Sombrio no Jardim de Fantasias


Bosch apresenta uma obra fantástica vista através de um tríptico de perspectivas fechada e aberta.


O que um Tríptico?


É um conjunto de três pinturas unidas por uma moldura ou somente três pinturas juntas formando uma única imagem.

 

O Tríptico fechado:

A Criação do mundo.


A mesma obra também foi interpretada por pesquisadores como o Mundo no Terceiro Dia. O quadro mostra o mundo, dentro de uma cúpula de vidro, que ao ser aberto, ou ao entrar nessa cúpula chegamos no tríptico aberto.


(Foto site oficial Museu do Prado)

Análise:


A Criação do Mundo ou Mundo no Terceiro Dia apresenta a Terra dentro de uma esfera transparente. Segundo o historiador e pesquisador Vagujhely Tolnai, a cúpula transparente está ligada a fragilidade e o medo do que está sendo criado, o mesmo motivo explica o uso das cores cinza, branco e o preto. Um mundo neutro, sem dia ou noite.


O Mundo no Terceiro Dia tem uma ligação forte com o número 03 (três) considerado como um número completo que representa o começo e o fim, e reforça a trindade e o tríptico.


No quadro, no canto superior esquerdo, de forma pouco visível está a imagem de Deus, o criador do mundo. Ainda na parte de cima está um trecho extraído da Bíblia do salmo 33: “Ipse dixit et facta s(ou)nt / ipse man(n)davit et creata s(ou)nt, que traduzido significa: Ele o diz, e todo foi feito. Ele o mandou, e tudo foi criado”.

(Foto arquivo Thais Riotto)

 

O Tríptico Aberto:

Jardim das Delícias Terrenas.


Três telas que mostram detalhes da criação do mundo, desde o paraíso até o inferno em uma mescla de luzes e sombras, literalmente, assim como a mescla da fantasia, dos sentimentos e da realidade.


(Foto site oficial Museu do Prado)


Painel ou Obra 01: Paraiso


O primeiro painel ou primeira obra representa o paraíso no último dia de criação. Na parte inferior estão “Deus”, Adão e Eva. No centro do painel está a Fonte da Vida, envolta por animais de diferentes espécies e o céu na parte superior.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Jardim do Éden: Na parte Inferior está a representação do Jardim do Éden. As três figuras principais são Deus, Adão e Eva cercados pela fauna e flora. Deus está representado na imagem conhecida na época por Jesus. Eva encontra-se ajoelhada no chão e toma da mão a Deus. Adão, deitado, olha para Eva. A arvore de frutas e os animais trazem a visão da pureza, da inocência, da paz.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Fonte da Vida & Os Animais: Na parte central do primeiro painel Bosch traz a fonte da vida a representação do começo, da liberdade, da paz. Os animais de espécies diferente convivem em um ambiente harmônico.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Detalhes da Fonte da Vida


(Foto arquivo Thais Riotto)


Ao lado da fonte da vida, do lado direito já temos uma visão oculta do pecado, escondido dentro das rochas, que para Bosch significa a cúpula, a proteção. E dentro dela, escondido, oculto na escuridão algo a ser temido.


(Foto internet)


O primeiro painel traz o verdes e o azul intenso do fundo, que contrastam com o manto vermelho de Deus e a pele clara dos corpos de Adão e Eva. As cores mesclam com poucos elementos que mostram a pureza e uma vida sem muitos detalhes, sem muita informação. Clara, quase que transparente.


(Foto arquivo Thais Riotto)

 

Painel ou Obra 02: (Tela Central) Vida Na Terra


O primeiro significado está em um vida de luxuria, de pecado. Mesclado com a fantasia, a pureza e uma realidade sem limite.


A necessidade do exagero, obcecado por tudo sem preocupações entre o certo e o errado. Essa mesma visão humana é representada pelos animais, que devoram outros animais de pequenos portes, não apenas para alimentação mas pela demonstração de força e poder.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Na parte superior é possível ver a pureza, a representação através de poucos elementos e cores claras, a frutas, o lúdico, a fantasia através seres místicos e alados.

(Foto arquivo Thais Riotto)



(Foto arquivo Thais Riotto)


Conforme as imagens vão descendo para o centro da tela, Bosch apresenta o pecado feminino, personificado nos animais que se arrastam pela terra e pela água.

(Foto arquivo Thais Riotto)


A simbologia dos quatro elementos também compõe está parte na representatividade dos elementos básicos. Assim como a Terra e Água era consideradas a essência da fecundidade, a semente. A mesma semente que nasce na terra, nasce no ventre da mulher. Os dois elementos são símbolos femininos.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Com o fogo e o ar, o pecado masculino, os animais que voam, o fogo da luxuria, da morte, do poder. Representado pelas cores vermelhas.


E os pecados carnais, que começam a se misturar, homens e mulheres, na visão dos animais a força e o poder de animais de elementares diferentes que se atacam, que se mesclam, tirando o foco do ser único, para um elemento que busca os prazeres sem limite.


(Foto arquivo Thais Riotto)


As Fontes da Juventude transformada em Fontes do Adultério


As mulheres nuas com corvos que representam a incredulidade, pavões os símbolos da vaidade, os íbis (aves) que simbolizam às alegrias passadas e as frutas representando o mel, a sedução atraindo os homens ao redor.


(Foto arquivo Thais Riotto)


No lago que representa a vida símbolos da fantasia e da inocência mesclado com o nu, com o desejo carnal.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Antigamente na época medieval a mulher era vista como fonte do pecado e da luxúria. Muitos pesquisadores retratam que essa também era a visão de Bosch.


A cavalgada


Contorna a Fonte Principal, no qual mulheres provocam nadando nuas, os homens montados em animais se colocam com o poder, como a fonte superior, Bosch traz animais reais e seres imaginários da mente dos homens. Cavalgar era na época usado como metáfora sexual.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Frutas & Conchas


Frutas suculentas, cerejas, framboesas, uvas e outras como símbolo aos prazer sexuais e da morte, pois simbolizam a transformação quando vão da fruta suculenta a fruta seca, podre.


O morango, antigamente representava as gotas do sangue de Cristo e Bosch o usa como alimento e abrigo.


As conchas seguem o mesmo simbolismo de proteção, e ao mesmo tempo os prazer por tudo que está escondido, que é proibido.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Pássaros:


No canto esquerdo as aves com pontos luminosos intercalados por figuras humanas simbolizam o erotismo, o voo para a liberdade sem medo.

(Foto arquivo Thais Riotto)


Na tela, Bosch mescla esses dois elementos: o corpo humano e animais simbolizando a alma aprisionada, o medo, o diferente de tudo que se conhece.

(Foto arquivo Thais Riotto)



Globo & Cúpulas:


Ambos representam o casulo e a transformação que acontece através dos atos de cada um, de suas escolhas. Algumas imagens são usadas para dar ênfase a esses elementos.

Dentre eles estão um casal dentro de uma bolha.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Globos onde o medo e os desejos carnais se misturam pela interpretação de corpos humanos e animais.

(Foto arquivo Thais Riotto)


E outras estruturas que parecem ser feitas de vidro, cabanas e elementos que trazem essa mesma simbologia da transformação.

(Foto arquivo Thais Riotto)

(Foto arquivo Thais Riotto)


O Oculto e ao mesmo tempo o segredo aparece no que se pode ver e no que não se pode, escondido nas cavernas

(Foto arquivo Thais Riotto)

O Pecado:


Pessoas e animais mostrados em posições invertidas. Dentro do lago um homem com cabeça e tronco submersos, enquanto as pernas estão abertas em forma de Y, com um ovo vermelho do qual nasce um pássaro.


(Foto arquivo Thais Riotto)


A mescla de humanos e animais. O pecado, as ações que não deveriam acontecer o serem vistas e quando o são, é o pecado nascendo, transformando as almas.

(Foto arquivo Thais Riotto)

 

Painel ou Obra 03: Inferno ou Inferno Musical


A música e o pecado, assim Bosch define o inferno, as tormentas, os medos, os gritos a visão exposta de uma realidade opressiva que devido as desejos carnais precisa pagar pelos pecados cometidos.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Cidade em Chamas:


O Inferno, a primeira imagem, superior que a tela nos mostra. O fogo como purificação e tortura, o vermelho e o preto mesclado com focos luminosos e fumaça.


Uma cidade em chamas, simbolizando além do medo um trauma real de Bosch que quando criança foi vítima de um incêndio em sua cidade natal.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Homem Arvore: Imagem central


Uma criatura fantástica que olha direto para o espectador (alguns pesquisadores interpretaram como sendo o rosto do artista). Sobre a cabeça possui um disco, no qual os monstros dançam representando o medo, a imaginação e o desconhecido, assim como o pecado e a morte para ele.

(Foto arquivo Thais Riotto)


No tórax um oco aberto no qual dentro mais seres, novamente a representatividade da alma e do corpo humano.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Seus braços são troncos de árvores que descansam sobre barcas em um lago gelados, muitos pesquisadores falam da representatividade do barqueiro entre os mundos.


Na idade Média considerava-se o frio e o calor como torturas do inferno, e na imagem também vemos poços negros com torturas.


(Foto arquivo Thais Riotto)


O Demônio sentado sobre os homens, torturando-os pelos pecados que cometeram em vida, a simbologia do medo, dos pesadelos.

(Foto arquivo Thais Riotto)


Detalhes da morte e dos pecados sobre os homens

(Foto arquivo Thais Riotto)


(Foto arquivo Thais Riotto)


Inferno Musical:


Na parte inferior está literalmente o inferno musical onde os instrumentos musicais aparecem transformados em instrumentos de tortura. Á direita, vê-se um homem abraçado por um porco, animais que reprsentavam o mais baixo que alguém poderia chegar, a lama como um fim de uma vida de luxuria.


(Foto arquivo Thais Riotto)


Assim, Bosch cria do começo ao fim do mundo, de uma realidade que mescla a arte, a fantasia, a imaginação pura aos devaneios dos setes pecados, a transformação dos sonhos, do lúdico aos prazeres da carte até a morte e seu sofrimento, ao pagar pelos pecados cometidos.


(Foto arquivo Thais Riotto)

 

A Misteriosa Partitura Escondida na Obra:


Passara-se cinco séculos para a descoberta oculta da música escondida. O fato é real foi publicado pelo site da Discovery.


Além da complexidade, já apresentada nesse post o quadro possui detalhes pouco conhecidos, entre eles a música.


A descoberta foi feita por dois estudantes americanos, Amelia e Luke, estudavam na Oklahoma Christian University, ambos possuem dupla graduação em música e ciência da computação, que observaram detalhadamente a partitura, cuja metade está desenhada em um livro e a outra metade nas nádegas de um homem caído no chão, na parte direita da obra.


Os dois estudantes se encarregaram de transcrever a notação mensural para a notação moderna, isto é, o pentagrama, e a introduziram em um sequenciador, que gerou a melodia com sons de piano.


 

Animação em vídeo da Obra

(Criação de Syd Garon)

 

SITE INTERATIVO


Esse site permite uma viagem guiada pela obra. Em inglês, através de áudio. Porém mesmo para os que não possuem conhecimento no idioma, indico para os amantes de arte, pois é possível ver os detalhes da obra de perto em excelente qualidade.


 

Vídeo Oficial do Youtube do Museu do Prado

Explicação sobre a análise da obra, em espanhol

 

Algumas referências de base de pesquisa.


BOSCH, Grandes Mestres – Bosch. São Paulo: Abril Coleções, 2011.


SILVER, L. Jheronymus Bosch and the Issue of Origins. Journal of Historians of Netherlandish Art. Vol. 1, Issue 1. 2009.


Hieronymus Bosch - The complete works, Stefan Fischer


E outras referências entre livros, artigos, pesquisas e museus.


Obras vendidas na loja do museu, entre outros artigos de arte.

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Guest
Jul 01, 2021

Sou doutora em História da Arte, moro na Itália há muitos anos. Como apaixonada por minha profissão estou sempre lendo e pesquisando artigos referentes. Vi seu post em minhas pesquisas online.

Como sempre, parabenizo quem aprecia as artes, me surpreendi quando vi o tema do blog, e fiquei a me perguntar o que uma escritora, pois olhei teu currículo, poderia colocar a história da arte nesse tema.

Confesso que quando comecei a ler o artigo, ainda estava um pouco sem saber o que iria encontrar, e me surpreendi positivamente, seu texto tem uma pesquisa ampla, uma paixão pela arte e um aprofundamento do tema do blog, mesclando muito bem e perfeitamente explicado a obra conhecida internacionalmente, do qual o artigo…


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